sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Tó e a Biblioteca

Porque o ano lectivo já começou e a Biblioteca quer continuar a ser uma companheira nas horas de trabalho e de lazer, aqui fica a experiência do Tó para inspirar aqueles que ainda não A descobriram.


O Tó e a Biblioteca

O grande dia tinha finalmente chegado. Não pensei noutra coisa durante as férias, até as festas da vila me pareceram diferentes, não sei, era como se alguma coisa fosse mudar na minha vida… O dia anterior foi uma azáfama, não parei o dia todo, de um lado para o outro, a arrumar e a preparar o material para o dia seguinte. Até a mãe estranhou eu ter comido pouco ao almoço; quando era peixinhos da horta com arroz de tomate, eu pedia quase sempre para repetir! Então à noite quase nem jantei e até nem me importei de perder os “Morangos com açúcar” para me deitar às dez em ponto. O corpo não queria dormir mas o motivo era sério e o cérebro venceu, tinha de ser!
Sonhei com um grande autocarro azul cheio de mochilas e livros que falavam entre si de assuntos em que pareciam muito entendidos. De vez em quando o autocarro parava e lá entravam mais livros e mochilas que se sentavam e se punham à conversa. Até que o autocarro parou à frente de um grande portão verde com uma placa que dizia “Escola EB 2,3”.
Quando me preparava para espreitar pelo portão, TRIMMM! Acordei estremunhado e dei-me conta que era hora de levantar: o meu primeiro dia na Escola grande tinha finalmente chegado!
Já antes ouvira falar muito desta escola, coisas que diziam os mais crescidos, e estava um bocadinho receoso. Mas apareceu o Pedro e fomos ao encontro dos nossos amigos que, tal como nós, iam para esta escola pela primeira vez.
Havia muitas coisas diferentes, mas depressa me habituei a esta nova vida. Não foi fácil no início, eram muitos os colegas, os professores, os funcionários, as salas, corredores todos iguais que não tinham fim... Mas houve um sítio da escola que me deixou curioso desde o primeiro dia em que a DT mostrou a Escola à turma: foi a biblioteca.
A única biblioteca que eu conhecia era a da minha escola primária, com estantes cheias de livros quase todos iguais que eu achava que ninguém lia, a não ser aqueles coloridos que estavam junto à mesa da D. Cassilda, a funcionária que ficava a tomar conta dos meninos quando se portavam mal. Mas esta biblioteca era maior, muito maior! Entrava-se por uma porta grande, toda de vidro, e tinha estantes com muitos livros, alguns iguais, outros diferentes, de vários tamanhos. E também tinha filmes, computadores e até duas televisões. Fiquei confuso, não percebi porque havia tantas coisas na Biblioteca e porque é que quem lá estava fazia coisas tão diferentes e desarrumava os livros todos.
A professora Marta, a DT como lhe chamávamos (talvez por mandar mais que os outros professores, penso eu) disse que podíamos ler os livros da biblioteca, ver filmes, ouvir música e também ir para os computadores. A mim pareceu-me confusão a mais e decidi que era lugar onde não iria perder muito tempo. Só uns tempos mais tarde me apercebi que estava enganado.
Um dia a professora Marta entrou na sala mas não se sentou, como era costume, para fazer a chamada por ordem alfabética. Fê-la mesmo de pé e informou a turma que naquele dia a aula ia ser diferente: íamos visitar a biblioteca. O Zé Francisco olhou para mim como que a perguntar “Fazer o quê?” e eu encolhi os ombros pois não fazia a mínima ideia. Levantámo-nos em silêncio e lá fomos nós para a biblioteca.
Estava uma senhora à porta que nos deu os bons dias e disse que era a professora Fátima. Foi ela que então nos explicou, já lá dentro, as coisas que nós podíamos ali fazer. E eram muitas.
Começámos por um balcão, que era a zona de atendimento, onde estava a D. Margarida e o Sr. José e onde costumava estar também a professora Fátima. Esta disse-nos que eles eram assistentes operacionais, fosse lá o que isso fosse. O importante era que quando precisássemos de alguma coisa era a eles ou a ela que devíamos pedir.
A zona de leitura informal era onde podíamos ler, muito bem sentados num sofá, revistas, jornais, bandas desenhadas e outras coisas que lá havia, e não tínhamos de pedir autorização. Gostei desta zona, era num cantinho junto à janela e os sofás deviam ser fofos. E estava lá a Quero Saber, uma revista espectacular que o Nuno às vezes me emprestava.
Mesmo ao lado havia mais sofás mas com televisão e uma estante cheia de filmes e de CD de música, era a zona de áudio e vídeo. Sem a professora dar conta abri a caixa do Astérix mas não tinha o filme dentro. Não disse nada mas a professora Fátima explicou depois que quando quiséssemos ouvir música ou ver um filme deveríamos pegar na caixa que estava vazia, levá-la ao balcão ou zona de atendimento e pedi-los lá. Com o filme ou o CD davam-nos uns fones que eram para não incomodarmos mais ninguém quando estivéssemos a ouvir música ou a ver o filme.
Quando quiséssemos estudar sozinhos ou ler em silêncio, devíamos escolher a zona de consulta de documentos ou de leitura. Tinha janelas de um lado e estantes com muitos livros do outro; no meio havia mesas e cadeiras para nos sentarmos. Achei estranho cada estante ter por cima números e nomes de cores diferentes; a que estava mais perto de mim dizia 5 – Ciências Naturais e a que estava em frente dizia 1 – Filosofia. Havia estantes com números de 1 a 9 com nomes todos diferentes e uma com 0 – Generalidades, onde estavam dicionários e outros livros muito grossos. A professora Fátima contou-nos que antigamente as bibliotecas só serviam para guardar livros mas agora existem para as pessoas utilizarem esses livros e as coisas que lá há. Por isso foi preciso separar tudo o que havia nas bibliotecas por temas para se poder encontrar facilmente o que se quisesse. E um senhor, de quem já não me lembro o nome, inventou 10 temas que numerou de 0 a 10, assim, se quisermos um livro que fale do corpo humano já sabemos que temos de procurar na estante número 5 – Ciências Naturais mas se quisermos um que fale de tudo um pouco, como é o caso dos dicionários, devemos ir à estante 0 – Generalidades. Se eu soubesse isto tinha cá vindo ver o que era um anfíbio, escusava de ter perguntado ao crânio da turma e dar-lhe o prazer de se sentir o mais inteligente.
Se precisássemos de fazer um trabalho de grupo ou estudar para os testes a fazer perguntas uns aos outros, era na zona de trabalho de grupo que devíamos estar, que tinha mesas rectangulares e redondas com dois ou mais lugares.
Quando se entra na biblioteca, do lado direito, é a zona de exposições e serve principalmente para pôr os trabalhos que fazemos nas aulas. Não fiquei a perceber se eram todos os trabalhos ou só alguns. Espero que sejam só os mais bonitos porque não sou nada bom a desenhar, ia ficar envergonhado se toda a gente visse os meus desenhos. Também estava aí um computador, era para pôr os trabalhos feitos a computador ou então mostrar coisas relacionadas com as exposições.
Seguindo em frente, encontrámos muitos computadores, era a zona multimédia. Fiquei encantado porque tinham internet, combinei logo com o Zé para virmos jogar na quarta-feira à tarde, depois do Clube de música. Mas, nem de propósito, ouvi a professora Fátima a dizer que aqueles computadores estavam numa biblioteca e não podiam ser utilizados para ver o que nos apetecesse. Já estava a ver os meus planos de quarta-feira estragados. Podíamos fazer trabalhos de pesquisa, que quer dizer procurar as informações para pôr nos trabalhos, podíamos fazer os trabalhos, mas jogar, só jogos didácticos. Não sabia muito bem o que eram jogos didácticos mas deviam ser daqueles de pôr as letras que faltam para formar palavras ou que fazem perguntas sobre matemática e no fim aparece “parabéns!” quando acertamos. Ou seja, nada de interessante. Mas a professora Fátima abriu a internet e escreveu qualquer coisa que eu não consegui ler e apareceu um jogo de uma galinha que tinha de atravessar uma rua onde passavam muitos carros; estava muito giro! Era um site que se chamava seguranet.pt e que dava conselhos para nós utilizarmos bem a internet. A seguir escreveu Plano Nacional de Leitura e clicou numa coisa que andava à roda e tinha escrito “Livros digitais”. Fiquei pasmado! Era como se fosse um livro mas no computador, podíamos ler, podíamos ouvir a história, e para mudar de página bastava clicar num cantinho e a folha virava! Afinal os planos para quarta-feira mantiveram-se.
Voltámos à zona de atendimento, que era onde podíamos marcar hora para o computador. Mesmo ao lado do balcão estava a inforteca. Eu já tinha visto isso mas não percebi o que era. Afinal a inforteca era o computador que estava mesmo por baixo da cartolina da parede que dizia inforteca, onde se lia: catálogo, fotografias das actividades, trabalhos, blogue da biblioteca, concursos … Ficámos a saber que podíamos tirar para a nossa pen as fotografias das actividades em que participássemos, que podíamos ver trabalhos dos nossos colegas, que podíamos ver concursos interessantes para nós, que podíamos ir ao blogue da Biblioteca, que podíamos consultar o catálogo… Não sabia bem o que era o blogue e muito menos o catálogo. Não era o único, a Maria também não sabia e perguntou primeiro. Afinal o blogue estava na internet e se escrevêssemos Biblioteca Escolar de S. João da Pesqueira conseguíamos vê-lo, já o catálogo era uma coisa mais complicada. Mas como a Maria também queria saber o que era, a professora Fátima relembrou a classificação dos livros por temas ou classes, de 0 a 9 e perguntou ao Miguel, que estava a puxar discretamente o cabelo da Ana Rita, o que faria se tivesse de procurar um livro que falasse de filósofos no meio de cem, sem a ajuda de ninguém. O Miguel foi sincero: “Ia-me embora que tinha mais o que fazer!”. A professora Fátima explicou então que por isso é que se fazem os catálogos, para ajudar a encontrar aquilo que procuramos.
Para se construir o catálogo era preciso pegar nos livros um a um e preencher no computador coisas como o título, o autor, a editora, o IS… qualquer coisa, que é um número que cada livro tem, o assunto do livro e outras coisas que a professora falou mas de que já não me lembro. E como por magia, quando consultássemos o catálogo no computador, bastava escrever o nome dos livros ou o autor e apareciam essas coisas todas e outra coisa muito importante, o lugar do livro na estante. Assim era fácil encontrar um livro no meio de mil, quanto mais de cem!
A professora Fátima pediu depois para nos virarmos para um quadro alto com anúncios de concursos e actividades da biblioteca. Disse-nos que ali estavam as principais novidades da biblioteca e outras coisas que nos interessavam.
Mas a Maria, curiosa como sempre, quis saber o que era aquilo com umas fitas que estava numa caixa em cima do balcão. Eram os cartões dos Biblioamigos, os amigos da biblioteca. Sempre que ajudavam nas tarefas ou actividades da biblioteca os membros do Clube tinham de usar aquele cartão com o seu nome e fotografia. E a Maria, claro está, perguntou logo se também podia ser amiga da biblioteca. A professora Fátima disse que sim mas que pensasse bem porque tinha de se portar bem, estudar, apoiar os colegas e ajudar no trabalho que havia na biblioteca. E disse-nos que a biblioteca tinha ainda outro Clube.
O Clube Pim, Pam, Lê! era mais para quem gostasse de ler. O Rafael mostrou-se interessado, queria saber o que era preciso para fazer parte. A professora Fátima respondeu-lhe que depois de se inscrever, só tinha de lhe ir dizendo o que achava dos livros que fosse lendo para publicar a opinião dele no blogue. Como o Rafael lia muito, logo decidiu inscrever-se.
A seguir a estas explicações a professora Fátima pediu-nos para nos juntarmos todos à volta dela e contou-nos que a biblioteca existia para todas as pessoas que estavam na escola e também para os nossos pais, se quisessem lá ir ou ler os livros da biblioteca; que devíamos frequentá-la muitas vezes, para estudar, para trabalhar ou para passar os tempos livres, a ler ou a jogar. Disse-nos para pedirmos ajuda sempre que tivéssemos dúvidas e para nos lembrarmos que a biblioteca existe para ajudar as pessoas a aprender mais e melhor, a saber mais coisas sobre o mundo e sobre elas próprias, a estar bem consigo mesmas e com os outros.
A minha barriga já estava a dar horas, devia estar quase na hora de almoço. Nem dei conta do tempo passar! E assim era porque daí a pouco tempo tocou para sair.
Aquele foi o segundo dia de muitos dias que fui à biblioteca nesse ano, ler, estudar, jogar, fazer trabalhos, ver exposições, participar em actividades. De sítio confuso, a biblioteca passou a ser para mim um lugar muito especial que me ajudou e ajudará a ser bom aluno e a crescer.

Autora do texto: Fátima Macedo Rodrigues (professora bibliotecária/coordenadora da Biblioteca)

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